quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Crônica "Dando um toque – ou muitos" por Mônica


As coisas costumavam ser mais simples quando a vida da gente estava limitada a um toque de telefone. Era só o ‘trim triiimm’ básico, no máximo dava pra regular o volume, pra não levar aquele susto no meio da noite ou pra conseguir ouvir do andar de cima. Tempos depois alguns telefones inovaram com um som que ficava mais próximo do ‘brûû brûûû’, mais discreto e mais phynno, mas cada aparelho vinha de fábrica com seu próprio triiim e ponto final.
Aí o pessoal da telefonia celular resolveu que a gente deveria poder escolher o toque que bem entendesse, e depois descobriu que dava até pra ganhar alguns trocadinhos com a operadora oferecendo mais militrocentos toques na lojinha virtual, geralmente com alternativas um tanto quanto esdrúxulas, como o mugido de uma vaca, uma bomba explodindo ou o último sucesso do Luan Santana. E agora as pessoas perdem um tempo danado xeretando a galeria de tons e musiquinhas, baixando mp3 e distribuindo este toque para o telefone do namorado, este aqui pra quando for a sogra, mais este quando for alguém da turma. Sei de gente, sério, que tem um toque separado pra cada pessoa da família (e a família é grande) e acho prodigioso que consigam saber quem é quem quando o celular toca.
Mas acabou que eu também enjoei do trim-trim do meu dumbphone (smartphone é só o dos outros) e vai daí que eu baixei (eu nada, que essas coisas eu deixo a cargo de um adolescente disponível no momento) Payphone, do Maroon 5, e coloquei como meu ringtone oficial. Já que é pra entrar pra turma, pelo menos que seja com a ironia de se ter na mudernidade digital de um celular uma música que fala em telefone de moedinha. É divertido, mas o problema é que agora o danado toca com o moço cantando no volume máximo (do contrário, eu não escuto tocando dentro da bolsa) ‘I’m on a paaaaayphone trying to caaall home’, eu atendo, converso, desligo, e aí passo a próxima meia hora com essa frase em looping na minha cabeça. Sobrinha prometeu me ligar todos os dias, só pra garantir que eu nunca mais vou parar de cantar essa musiquinha.


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